As bolhas de conservadorismo dão
sempre a falsa impressão de quem manda, quem faz parte da maioria opressora, e
consequentemente, quem é capaz de influenciar e determinar a opinião popular.
Ao colocar essa compreensão sob suspeita é possível perceber que as questões raciais,
de gênero e religiosas, estão cada dia ganhando maior visibilidade através de
pessoas que exploram as contradições da natureza humana apontando a falta de
legitimidade do discurso feito em nome de uma suposta maioria. As pessoas
desconcertadas, andróginas, de difícil nomenclatura e classificação para a
ordem imposta, confundem os papéis sociais e abrem precedentes para a anarquia
dos sexos, demandando os cenários do cotidiano e angariando notoriedade às
diferenças, demonstrando que nem mesmo pessoas conservadoras realmente vivem de
acordo com os padrões.
A sociedade tenta exigir de todas
as formas possíveis uma coerência do comportamento com o sexo biológico,
alimentando um ambiente sexista que discrimina e marginaliza a diferença, ainda
que aparentemente em menor intensidade, os homens têm começado a se sentir mais
livres e dispostos a aceitar sua alma feminina sem se sentir menosprezados e as
mulheres a incorporar a ousadia masculina sem receio de que sejam tolhidas. Ao
contrário do que se pensa, o ser humano é híbrido, funciona com um equilíbrio
em desajuste que se regula por diferentes caminhos em cada pessoa, a
singularidade das particularidades é o que faz alguém ser quem é, de forma que
qualquer postura humana recai sob uma diversidade de experiências. Discriminações
geralmente refletem a ignorância dos próprios sentimentos e desejos manifestos
pelos outros. Casos de repressão e aceitação são cada vez mais comuns e
igualmente ameaçadores ao senso comum, demonstrando quão costumeiras são as
violências verbais e físicas reproduzidas como traços de uma cultura.
Assassinatos são o efeito mais
chocante e perverso da incapacidade de permitir a manifestação da individualidade
dos outros, teoricamente, inclassificáveis e dispostos de uma tal forma contra
hegemônica, mas diferente do que se faz crer, os atos de crueldade não são
reações instantâneas, pelo contrário, são crimes cometidos com o consentimento
público. As ditaduras mantêm em comum os mesmos comportamentos de opressão e de
uma política absolutista, auto explicável, auto executável, naturalizadas por
estorias e discursos patológicos. O espaço público está constantemente sofrendo
reinvenções e em disputa por forças econômicas, políticas e sociais, mas o
senso comum passa a sensação enganosa de que existe um predomínio natural de
uns sobre outros.
Numa sociedade individualista e
privatista, o segredo é a principal forma de explorar vivências guardadas a
sete chaves, coisas que em muitos casos são contraditórias e anulam a
veracidade do alter ego manifestado em sociedade. Papeis sociais assumidos em
sociedade que se anulam e colocam em dúvida a legitimidade das elucubrações
pessoais quando confrontados com as reais verdades secretas de cada indivíduo.
A capitalização humana tem tentado adaptar os perfis assumidos em sociedade com
padrões restritivos e excludentes, descaracterizando a essência das
singularidades e diminuindo sua real importância.
Quem sabe por um dilema
geracional, aprendemos a agir e reagir de acordo com o olhar de quem educa a
primeira vez, acontece que muitas vezes, nessa difícil tarefa de assimilação,
negamos tão fortemente nossos próprios desejos que eles são esquecidos e reaparecem
como ódio e intolerância. Dependendo da geração, ainda é muito difícil, quase
inconcebível, lidar com pessoas que não se comportam dentro do esperado, da
mesma forma que é impossível permanecer constantemente suportando atos de
violência e repressão. Verdade seja dita, e que isso não atormente ninguém, mas
não há uma única pessoa que se sinta totalmente confortável e plenamente
satisfeita cumprindo com as obrigações e posturas apenas do seu sexo biológico.
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