segunda-feira, setembro 12

O contrário do oposto



As bolhas de conservadorismo dão sempre a falsa impressão de quem manda, quem faz parte da maioria opressora, e consequentemente, quem é capaz de influenciar e determinar a opinião popular. Ao colocar essa compreensão sob suspeita é possível perceber que as questões raciais, de gênero e religiosas, estão cada dia ganhando maior visibilidade através de pessoas que exploram as contradições da natureza humana apontando a falta de legitimidade do discurso feito em nome de uma suposta maioria. As pessoas desconcertadas, andróginas, de difícil nomenclatura e classificação para a ordem imposta, confundem os papéis sociais e abrem precedentes para a anarquia dos sexos, demandando os cenários do cotidiano e angariando notoriedade às diferenças, demonstrando que nem mesmo pessoas conservadoras realmente vivem de acordo com os padrões.

A sociedade tenta exigir de todas as formas possíveis uma coerência do comportamento com o sexo biológico, alimentando um ambiente sexista que discrimina e marginaliza a diferença, ainda que aparentemente em menor intensidade, os homens têm começado a se sentir mais livres e dispostos a aceitar sua alma feminina sem se sentir menosprezados e as mulheres a incorporar a ousadia masculina sem receio de que sejam tolhidas. Ao contrário do que se pensa, o ser humano é híbrido, funciona com um equilíbrio em desajuste que se regula por diferentes caminhos em cada pessoa, a singularidade das particularidades é o que faz alguém ser quem é, de forma que qualquer postura humana recai sob uma diversidade de experiências. Discriminações geralmente refletem a ignorância dos próprios sentimentos e desejos manifestos pelos outros. Casos de repressão e aceitação são cada vez mais comuns e igualmente ameaçadores ao senso comum, demonstrando quão costumeiras são as violências verbais e físicas reproduzidas como traços de uma cultura.

Assassinatos são o efeito mais chocante e perverso da incapacidade de permitir a manifestação da individualidade dos outros, teoricamente, inclassificáveis e dispostos de uma tal forma contra hegemônica, mas diferente do que se faz crer, os atos de crueldade não são reações instantâneas, pelo contrário, são crimes cometidos com o consentimento público. As ditaduras mantêm em comum os mesmos comportamentos de opressão e de uma política absolutista, auto explicável, auto executável, naturalizadas por estorias e discursos patológicos. O espaço público está constantemente sofrendo reinvenções e em disputa por forças econômicas, políticas e sociais, mas o senso comum passa a sensação enganosa de que existe um predomínio natural de uns sobre outros.

Numa sociedade individualista e privatista, o segredo é a principal forma de explorar vivências guardadas a sete chaves, coisas que em muitos casos são contraditórias e anulam a veracidade do alter ego manifestado em sociedade. Papeis sociais assumidos em sociedade que se anulam e colocam em dúvida a legitimidade das elucubrações pessoais quando confrontados com as reais verdades secretas de cada indivíduo. A capitalização humana tem tentado adaptar os perfis assumidos em sociedade com padrões restritivos e excludentes, descaracterizando a essência das singularidades e diminuindo sua real importância.            

Quem sabe por um dilema geracional, aprendemos a agir e reagir de acordo com o olhar de quem educa a primeira vez, acontece que muitas vezes, nessa difícil tarefa de assimilação, negamos tão fortemente nossos próprios desejos que eles são esquecidos e reaparecem como ódio e intolerância. Dependendo da geração, ainda é muito difícil, quase inconcebível, lidar com pessoas que não se comportam dentro do esperado, da mesma forma que é impossível permanecer constantemente suportando atos de violência e repressão. Verdade seja dita, e que isso não atormente ninguém, mas não há uma única pessoa que se sinta totalmente confortável e plenamente satisfeita cumprindo com as obrigações e posturas apenas do seu sexo biológico.

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